
O Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) começou a utilizar uma nova tecnologia baseada em inteligência artificial (IA) para monitorar o processo de emissão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Desenvolvida pela Valid, empresa responsável por 80% das emissões de CNHs e RGs no país, a solução busca coibir fraudes como a realização de provas por terceiros e o uso de dispositivos indevidos durante os exames.
A ferramenta já está em operação e, segundo o Detran-DF, apresentou resultados imediatos. Logo nas primeiras aplicações, um candidato foi flagrado utilizando um celular escondido durante a prova teórica. A identificação foi feita pelo sistema, que analisa em tempo real padrões de comportamento ocular e corporal dos participantes.

Valid aposta em IA no serviço público
A Valid é uma empresa brasileira com atuação internacional, especializada em soluções de identificação segura para governos, bancos e empresas. Além de ser uma das principais emissoras de documentos civis do Brasil, a companhia tem investido no desenvolvimento de tecnologias com inteligência artificial voltadas à segurança digital e à eficiência de serviços públicos.
A aplicação da IA no contexto do Detran-DF é parte desse movimento. A proposta é garantir que apenas candidatos realmente aptos obtenham a CNH, eliminando brechas para fraudes e automatizando o processo de triagem, sem comprometer a agilidade no atendimento.
Monitoramento por IA em tempo real
A tecnologia atua em todas as etapas do processo de habilitação. A primeira barreira está na identificação biométrica facial, que impede que outra pessoa realize o exame no lugar do candidato inscrito. Durante a prova teórica, câmeras instaladas no ambiente registram os movimentos dos participantes. A IA analisa esses dados e aponta comportamentos considerados atípicos, como olhar fixo para baixo ou movimentos repetitivos com a cabeça.
Na etapa prática, o monitoramento continua com câmeras posicionadas dentro dos veículos utilizados nos testes. As imagens também são analisadas em tempo real e podem levar à desclassificação do candidato caso o sistema identifique alguma irregularidade, que deve ser confirmada por um examinador.

Hugo Fernando Figueiredo Santos, diretor-geral adjunto do Detran-DF, disse em entrevista ao Olhar Digital que o impacto foi perceptível desde o início. Ele explica que o sistema não apenas identificou tentativas de fraude, mas também teve um efeito inibidor, reduzindo drasticamente o número de ocorrências.
A própria população já vai se adequando, porque a informação de que ficou mais difícil fraudar o processo se dissemina rapidamente.
Hugo Fernando Figueiredo Santos, diretor-geral adjunto do Detran-DF
Como funciona a solução tecnológica
A aplicação da tecnologia ocorre em três fases:
- Pré-prova (identificação): o processo se inicia com a validação biométrica facial, que garante que o candidato inscrito seja realmente quem comparece ao exame.
- Durante a prova teórica: câmeras monitoram o comportamento ocular e corporal dos candidatos. A IA é treinada para detectar comportamentos suspeitos, como movimentos incomuns com os olhos ou a cabeça, que devem ser verificados pelos examinadores.
- Na prova prática: o acompanhamento segue com câmeras instaladas nos veículos. O sistema processa os dados em tempo real e sinaliza comportamentos suspeitos para que os examinadores avaliem possíveis irregularidades.

Resultados tem impacto positivo no atendimento
O Detran-DF afirma que, com a adoção da nova tecnologia, não houve atrasos na entrega das CNHs, muito pelo contrário. Em alguns casos, como na versão digital, o processo pode ser concluído em até 24 horas, enquanto a entrega da versão física também passou a ocorrer com mais agilidade. Os resultados, segundo a autarquia, superaram as expectativas iniciais.
Além disso, a adoção da IA teve reflexos positivos na equipe de trabalho. Examinadores e servidores relataram maior motivação e valorização ao perceberem que o sistema ajuda a garantir que apenas os candidatos realmente aptos obtenham a habilitação.
Segundo informações do próprio Detran-DF, tentativas de fraude em exames de habilitação são recorrentes e comprometem a segurança no trânsito. A nova tecnologia busca eliminar esse risco.
Modelo desperta interesse de outros estados
A solução implementada no DF despertou a atenção de outros departamentos de trânsito pelo país. O Detran-DF tem sido procurado por outras unidades da federação interessadas em conhecer a tecnologia e avaliar sua adoção. Um dos diferenciais do modelo brasiliense está na integração entre os módulos das provas teórica e prática, o que confere mais agilidade ao processo.
“Muitos estados têm blocos separados de processamento. Aqui, conseguimos fazer tudo em uma solução única, o que garante mais celeridade, segurança e qualidade”, explicou Santos.

A interoperabilidade também é considerada uma diretriz estratégica pela gestão do Detran-DF. A ideia é usar a base de dados da habilitação de forma integrada com outros serviços, como emissão de credenciais de estacionamento e controle de acesso nas unidades físicas.
Tecnologia pode ser expandida para outras áreas públicas
Para a Valid, o case do DF pode ser replicado em outras regiões e até em serviços públicos fora da esfera de trânsito. O CEO da empresa, Ilson Bressan, afirma que a combinação de processos integrados e ferramentas tecnológicas adequadas traz ganhos tanto para os cidadãos quanto para os órgãos de governo.
É um case que, sem dúvida, queremos levar para outros lugares do Brasil. Muitos já estão visitando o Detran para conhecer a solução e adaptar seus próprios processos.
Ilson Bressan, CEO da Valid
Segundo ele, a tecnologia desenvolvida pode ser aplicada em outros contextos onde a validação de identidade e a análise de comportamento também são críticas para a confiabilidade do processo.
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